Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Helena Sacadura Cabral

Helena Sacadura Cabral

Como a mãe sobrevive à injustiça que não passa

Viver a vida inteira sentindo-se a parte esquecida de uma história familiar — aquela que segurou as pontas, que chorou sozinha, que renunciou a si para proteger os filhos — pode ser devastador. Quando, além disso, os filhos demonstram mais carinho, lealdade ou compreensão ao pai que causou a rutura, o que resta à mãe?

Resta ser fiel a si.

Ser mãe, nesse caso, é um ato de resistência silenciosa. É escolher continuar a amar sem aplauso, cuidar sem reconhecimento, e manter-se íntegra mesmo quando a vida foi injusta. Isto não é passividade — é uma força quase sagrada. E essa força precisa ser cuidada, alimentada, honrada.

A dor não deve ser engolida sozinha. É essencial falar, buscar apoio, terapia, ou simplesmente ter com quem dividir essa ferida. Porque o que dói de verdade não é só o amor negado, mas o silêncio que o envolve.

Também é importante entender que os filhos, muitas vezes, não veem as coisas como os pais veem. Eles lidam com as suas próprias faltas, projeções e idealizações. Às vezes preferem o pai ausente ou irresponsável porque não os cobra, porque representa uma figura mais leve ou livre. Mas isso não significa que a mãe foi menos importante — significa apenas que eles ainda não compreenderam tudo.

O tempo pode não consertar tudo, mas amadurece os olhares. Muitos filhos só enxergam a dimensão do que a mãe fez, quando se tornam pais. Às vezes, nem aí. E mesmo assim, é possível encontrar paz. Não na expectativa do retorno, mas na dignidade do que foi feito.

A mãe que vive essa injustiça precisa, acima de tudo, resgatar a sua própria história além da maternidade. Voltar-se para si: seus desejos, seus projetos, sua identidade, além do cuidado. Porque, embora os filhos sejam parte fundamental da vida, eles não devem ser o único espelho da nossa realização.

Não é justo, não é leve, e talvez nunca seja retribuído. Mas o amor verdadeiro não depende de o outro entender. Ele basta-se por ser inteiro, mesmo quando o outro não enxerga.

REV 4.jpg

publicado às 13:32

1 comentário

Comentar post

Mais sobre mim

imagem de perfil

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D