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Helena Sacadura Cabral

Helena Sacadura Cabral

AS DOZE BADALADAS

As doze badaladas chegam como um sussurro poderoso, arrastando lembranças e ecos do ano que termina. A primeira batida desperta a melancolia dos momentos que ficaram para trás — é como uma saudade do que não se repetirá, mas que deixará marcas profundas. Na segunda, sente-se a ansiedade de tudo o que ainda não se fez, de todas as promessas que fizemos a nós mesmos e não cumprimos. É um lembrete suave, porém firme, de que a vida tem pressa e que cada instante é um convite à mudança.

Quando a terceira badalada invade o ar, um sopro de renovação alcança o peito. Pensamos em tudo o que ainda está por vir: as oportunidades, as descobertas, os recomeços. Por instantes, o futuro parece uma folha branca, aberta a infinitas possibilidades. A cada novo toque do relógio, sentimos soltarem-se as amarras do passado e invadir-nos uma nova leveza. A quarta, quinta e sexta badaladas dissolvem medos antigos, cedendo espaço para a coragem de escrever novos capítulos.

Chegando à sétima e à oitava, o coração já bate em sintonia com o desejo de nos perdoarmos a nós próprios e aos outros. Há uma ternura que se espalha, um sorrisinho de esperança que se instala, sem pedir licença. Então a nona e a décima anunciam que o tempo não para, que há muito mais a viver, a descobrir e a sentir. Entendemos que a vida é feita de ciclos que vão e voltam, como ondas incansáveis no mar.

Na décima primeira, sente-se um arrepio, uma chamada silenciosa para abraçar quem somos e, ao mesmo tempo, lançarmo-nos ao que podemos vir a ser. Quando, enfim, a última badalada rompe o véu da noite, um silêncio solene se impõe. Nesse intervalo entre o que foi e o que está por vir, há um convite íntimo à renovação, à liberdade de reescrever o próprio destino. E ali, no breve hiato em que o tempo quase para, reconheço que o novo ano é também um voto de confiança na força que nasce dentro de nós e nos impulsiona para diante.

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publicado às 15:32

O NOVO ANO

Quando pensamos num novo ano, como 2025, é quase como abrir um caderno em branco, pronto para ser preenchido com novas histórias, lições e conexões. Talvez você queira experimentar algo que nunca fez antes, ou cuidar do que já existe em sua vida de uma forma mais profunda. Não há certo ou errado nesta jornada — apenas a descoberta de quem você é, e de quem se quer tornar.

Cada dia traz uma oportunidade de se aproximar de alguém que você ama, de criar memórias que aquecem o coração e de arriscar em busca de um sonho, que ainda está a crescer dentro de si. 2025 pode ser o tempo de olhar para dentro de si e perceber o quanto você já percorreu, o quanto você ainda tem para viver e, sobretudo, o quanto você merece o próprio caminho. Que seja, então, um ano de aconchego e coragem para se tornar quem deseja ser.

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publicado às 20:19

A VERDADE DÓI

"A verdade dói" é uma frase que encapsula a ideia de que confrontar a realidade pode ser emocionalmente desafiador. Muitas vezes, preferimos ignorar ou evitar a verdade, porque ela pode revelar aspetos desconfortáveis sobre nós mesmos, as nossas circunstâncias ou o mundo ao nosso redor. Essa evasão pode ser uma forma de defesa psicológica, para proteger sentimentos ou preservar uma ilusão de segurança e conforto.

Quando somos confrontados com a verdade, especialmente quando ela contradiz crenças ou expectativas nossas, pode ser uma experiência dolorosa, que nos faz sentir vulneráveis, expostos ou até mesmo envergonhados. Aceitar a verdade requer coragem e autoconsciência para lidar com emoções que surjam ao enfrentar a realidade.

No entanto, é importante reconhecer que, apesar da dor inicial, enfrentar a verdade pode ser uma oportunidade para crescimento pessoal e de autodescoberta. O que nos permite aprender com as nossas experiências, corrigir equívocos e, no futuro, fazer escolhas mais informadas. A verdade também pode promover relacionamentos mais autênticos e saudáveis, baseados na transparência e na honestidade mútua.

Portanto, embora a verdade possa causar algum desconforto inicial, ela é, muitas vezes, um elemento essencial para alcançar uma compreensão mais profunda de nós próprios e do mundo que nos rodeia.

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publicado às 16:23

O ADEUS

Há um silêncio especial que antecede o adeus — um intervalo quase sagrado, no qual o tempo parece suspender a respiração, como se cada segundo procurasse estender-se um pouco mais, hesitante, antes de entregar à realidade a última palavra. É nesse vácuo que a consciência da perda se faz mais aguda. Ali, entre o agora e o depois, percebemos a inevitável despedida não apenas como um ato, mas como um movimento interno de soltar o que, até então, havíamos apreendido com tanta força. Nessa pausa, quase podemos sentir as partículas de poeira iluminadas pela claridade difusa da tarde, pairando no ar, testemunhas mudas do que está por acontecer. A partida em si, o gesto exterior de virar as costas, é apenas a metade visível do adeus. A outra metade permanece entranhada no olhar húmido, no aperto da garganta, no sabor amargo que fica entre a língua e o céu da boca. Há uma espécie de desalinhamento do mundo, quando alguém se vai: o corredor parece mais longo, o quarto maior, as gavetas mais vazias. A ausência não é um simples silêncio, mas um eco persistente, a imagem desbotada de alguém que antes moldava os nossos dias e que agora deixa um contorno invisível em cada objeto tocado. As chávenas guardam ainda o calor de um último café compartilhado, a mesa conserva uma mancha quase impercetível, herança de outros tempos, e o cheiro familiar do casaco esquecido no guarda-fato teima em não desaparecer. E, no entanto, mesmo sob o peso da despedida, há sementes a germinar. Após o choque do adeus, aprendemos a tecer novos significados, a costurar as lembranças entre si, formando uma tapeçaria íntima do que se foi e do que permanece. Com o tempo, a lembrança deixa de ser ferida e torna-se memória, um território onde o carinho e a compreensão podem florescer. O adeus coloca-nos diante do mistério do desapego e do amadurecimento, ensina-nos que não podemos reter nada além do que somos, e que o outro, partindo, não nos retira a própria essência — apenas nos deixa a tarefa de reorganizar o mundo interno, acomodando o vazio ao lado do que resta. Talvez seja essa a sabedoria contida no ato de dizer adeus: reconhecer que, para além da dor, existe uma aprendizagem subtil, um movimento inevitável de expansão e acolhimento. Ao libertarmos quem parte, abrimos espaço para que, dentro de nós, caiba a verdade do que é a vida: um contínuo fluxo entre chegadas e partidas, encontros e desenlaces, cada qual moldando a paisagem íntima do que chamamos de existir.

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publicado às 15:39

NO ENTRETANTO

Há algo sutil e quase suspenso nos dias que separam o Natal do Ano Novo. É como se o tempo, de súbito, respirasse fundo, abrindo espaço para uma pausa delicada. Os enfeites natalícios ainda decoram as ruas e iluminam as casas, mas já soam como uma lembrança agridoce de um instante que ficou para trás. O coração reconhece esse hiato, essa pequena fresta entre um ano que termina e outro que, ansioso, se prepara para nascer.

Nesse intervalo, cada gesto parece ganhar um tom mais suave, como se o corpo, ainda aquecido pelo calor das festas, merecesse repousar por um momento. A memória resgata abraços, risadas e suspiros, enquanto a mente insiste em tecer expectativas e promessas. Ronda o ar uma melancolia gostosa, mistura de nostalgia e esperança, que nos convida ao recolhimento.

É nesse espaço entre o ontem e o amanhã que a alma encontra o seu lugar de comunhão consigo mesma. Um suspiro a mais antes da contagem regressiva, um relance para dentro antes de se projetar à frente. O mundo  prepara-se para renascer, mas aqui, nesse entreato silencioso, o que aflora é o desejo de estar presente, de sentir o pulsar do agora e de guardar nele a semente de tudo o que ainda pode ser.

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publicado às 12:27

Aqueles que não podem fazer Natal

Há lugares onde o Natal não chega. Lugares onde a neve, o calor do lar ou o tilintar de sinos são substituídos pelo frio do aço, pelo eco dos tiros e pelo vazio das noites insones. Lugares onde o cheiro do pinheiro decorado é trocado pelo da pólvora, e onde a esperança, esse presente tão esperado, parece perdida entre trincheiras e ruínas.

Para aqueles em guerra, o Natal é apenas um lembrete distante de um tempo de paz que já lhes não pertence. São homens, mulheres, jovens e até crianças, cujas mãos, em vez de carregarem laços de presentes, seguram armas e escudos. Corações endurecidos pela sobrevivência batem em ritmos diferentes, lutando para não esquecer o que significa ser humano, mesmo quando tudo ao redor conspira para lhes roubar essa humanidade.

Enquanto em muitas casas ao redor do mundo as mesas se enchem de fartura e risos, há mesas vazias em tendas improvisadas, onde o único banquete é a memória de um abraço perdido ou a saudade de uma voz querida. E ainda assim, mesmo no meio do caos, há quem feche os olhos por um instante, tentando imaginar o calor de uma vela ou o som de um "Feliz Natal" sussurrado por alguém amado.

O espírito natalício, dizem, vive naqueles que acreditam. Mas como acreditar quando tudo ao redor parece morrer? Como celebrar o nascimento de uma promessa de paz, quando as bombas caem mais rápido do que as estrelas? Eles não têm coro de anjos, mas o som de aviões rasgando o céu. Não têm luzes coloridas, apenas o brilho esporádico das explosões que iluminam a noite como um grotesco simulacro de festa.

E ainda assim, alguns resistem. Nas trincheiras, compartilham entre si pedaços de pão ou uma canção sussurrada, como se quisessem, por um breve instante, recriar a magia perdida. Há quem escreva cartas que talvez nunca sejam enviadas, cheias de desejos para um futuro onde o Natal possa ser, novamente, o que ele deveria: um dia de reencontros, risos e esperança.

Esses que não podem fazer Natal nos lembram do quanto ele é mais do que presentes ou ceias. É o fio frágil que une corações partidos e dá sentido ao caos. Para eles, o Natal não é uma data, mas um anseio. Não é uma celebração, mas uma resistência. É a promessa, ainda que distante, de que um dia, quem sabe, a paz chegue e eles possam voltar a sonhar.

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publicado às 21:31

Queridos(as) leitores(as),

Neste fim de ano, desejo que cada página da sua história seja repleta de amor, esperança e conquistas. Que o Natal traga a magia de reencontrar, na simplicidade e na união, o verdadeiro sentido da festa: a partilha de bons sentimentos e a celebração da vida. E que o Ano Novo chegue renovando energias, inspirando novos sonhos e fortalecendo cada meta que cada um deseja alcançar.

Agradeço pela companhia e confiança ao longo do ano e que, juntos, possamos continuar trilhando muitos caminhos de conhecimento e emoção, nas próximas páginas que a vida nos reserva.

Boas festas e um maravilhoso Ano Novo!

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publicado às 22:31

SEMPRE EM CASA

Conhece aquela sensação de quem comprou um pacote de arroz de 5 kg e, quando o abre, o pacote vem com um aviso: “A validade é ilimitada”? Agora ele está permanentemente no seu armário. Pois é, ter um filho que não sai de casa é mais ou menos isto. Eles chegam pequenininhos, mal ocupam um berço, e num piscar de olhos viram espécies raras de “filhos-adultos-acomodados” no sofá, agarrados ao computador, com a mesma naturalidade com que se respira.

Quando bebé, mal podemos esperar para ver o primeiro passo. No momento, décadas depois, ficamos na expetativa de ver qualquer passo em direção à porta de saída. Mas não, eles não vão.

E se perguntamos: “Filho, quando é que vais arranjar um canto só para ti?”. A resposta é tão certa quanto a falta de dinheiro na carteira: “ando a pensar nisso, mãe, ando a pensar...”. Entretanto, o frigorífico fica vazio, mais rapidamente do que a magia num show infantil.

Mas eles têm sempre uma justificação original. “A economia tá difícil, pai”. “O mercado de trabalho é selvagem, mãe”. “Meu signo diz que não é momento de mudanças”. São argumentos tão convincentes quanto o “cachorro comeu as bolachas”, do jardim de infância.

Aí, um dia, o pai ousa, quase envergonhado: “Filho, se pagares a conta da luz por mês, já ajuda”. A reação é digna de ópera dramática: “Eis que me arrancam a juventude! A luz, ó céus, a luz, símbolo da minha liberdade, agora cobra pedágio...”! Tudo isso, claro, enquanto assistem às séries em streaming na TV da sala, esparramados como se o mundo acabasse ali.

No fundo, nós até rimos (para não chorar). Porque sabemos que, um belo dia, vai surgir aquele momento mágico, em que eles enfim partem, empacotam as meias, os posters de banda que já se separou há dez anos e seguem rumo ao desconhecido. E, pode crer, nesse dia, nós vamos sentir saudade. Mas até lá, que tal mais um franguinho de churrasco, na hora do jantar? Quem sabe, assim eles saem... ou não?  Mas, pelo menos, já nos divertimos a contar esta história tão comum?

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publicado às 16:25

SE O ARREPENDIMENTO MATASSE

Há dias em que o arrependimento pesa sobre o peito como um sopro abafado, um sussurro que se arrasta pelos cantos da memória e acaba por erguer muros dentro de nós. É um sentimento denso, de contornos quase invisíveis, que se insinua no silêncio, nos intervalos entre um pensamento e outro, na brisa leve que entra pela janela sem pedir licença. Diante dele, tudo que não fizemos, tudo que deixámos para depois, tudo o que fingimos que não importava, retorna na forma de fantasmas: palavras que nunca foram ditas, olhares que não se cruzaram, cartas que ficaram fechadas em gavetas empoeiradas de incerteza.

Carregamos o eco dos gestos contidos, dos abraços que não demos, das confissões sufocadas pelo medo de ser julgado ou não compreendido. O arrependimento é a morte lenta das possibilidades que, um dia, pareceram eternas e inquebrantáveis. É testemunhar, impotente, o desbotar de cores que, um dia, foram vívidas e o ranger de portas que se fecharam para sempre. Há uma certa melancolia na perceção de que nem sempre é possível retornar aos instantes onde a escolha andava no ar, esperando que estendêssemos a mão e a recolhêssemos para dentro de nós, transformando-a em realidade.

Porém, talvez haja um consolo neste desconforto: o arrependimento também é um lembrete de que somos humanos e falíveis, um convite a reconhecer as nossas limitações e fragilidades. É no amargor das oportunidades desperdiçadas que encontramos o fermento para novas tentativas. A dor de não ter tentado abre espaço para a determinação de não mais hesitar. O remorso, por si só, não reverte o passado—mas pode iluminar o caminho adiante, ensinando-nos a não fugir do que sentimos, a não nos intimidarmos pelo que não sabemos, a não poupar ternura e honestidade quando o coração a pede.

Assim, resta-me carregar o arrependimento como um espelho que me faz encarar a mim mesmo, com meus lapsos, silenciosas covardias e arroubos de orgulho. E, ao fazê-lo, crescer na direção da coragem, da transparência e do cuidado com o agora. É nessa assimilação lenta que repousa a chave para um futuro menos marcado pela dúvida e mais iluminado pela clara vontade de viver com autenticidade.

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publicado às 17:57

A COREOGRAFIA DO ADEUS

Há um silêncio especial que antecede o adeus — como se o tempo segurasse, por um instante, a respiração, antes de deixar as palavras deslizarem, uma a uma, entre as fendas daquilo que já não se pode mais dizer. É nessa pausa suspensa, quase um abismo, que a dor encontra voz: ela instala-se nas pequenas coisas, no cheiro conhecido do café, na dobra do lençol, na tinta desgastada do corrimão.

Não é a partida em si que pesa, mas o espaço vazio que o outro deixa. O eco dos seus passos no corredor vazio, a cadeira vazia à mesa. O adeus não é apenas uma palavra, é um quadro que se desvanece, um retrato arrancado da parede, um sopro de ausência que espalha memórias pela casa. E ainda assim, mesmo no luto subtil do que já não é, floresce uma semente de compreensão. O adeus, por mais que custe, nos ensina a gentil e árdua arte de soltar as mãos.

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publicado às 16:29

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